A madeira tem virtudes únicas, ainda inexploradas
Para nós, a imagem da madeira é ainda aquela de ser uma tendência de escolha arquitetônica, aconchegante e benéfica para o Planeta. Todavia, devemos integrar suas outras qualidades aos métodos construtivos do futuro.
A percepção do grande público sobre a madeira
Em todo o mundo, a madeira é o material da moda. Pouco a pouco deixa de ser considerada em desuso, e assume a feição de material do futuro para o bem-estar da humanidade. Certamente, conta com defensores e opositores. Ostenta uma imagem altamente positiva em termos de estética, de meio ambiente e redução energética, entretanto, é considerada pouco resistente à água. Justamente por isso, é necessário reformular este conceito e esclarecer o consumidor sobre sua utilização nos ambientes externos, mas principalmente, sobre as espécies, e os tratamentos adequados para execução de paredes exteriores e fachadas.
A fábula dos “Três Porquinhos” marcou nosso inconsciente.
Os obstáculos à utilização da madeira na construção civil
Primeiramente, trata-se de uma questão cultural. A fábula dos “Três Porquinhos”, recontada às crianças do mundo inteiro, e que marcou nosso inconsciente, é um bom exemplo. Além disso, existe o desconhecimento sobre a utilização das madeiras de nossas florestas, e dos métodos corretos de exploração. Também a antiga crença de “jamais derrubar uma árvore”, que nos acompanha de longo tempo. Tudo isso combinado às legítimas defesas contra o desmatamento, da Amazônia especialmente, constitui um forte preconceito.
Dois pontos cruciais devem ser esclarecidos à sociedade; O da capacidade instalada e tecnologia já disponível de nossa indústria madeireira, e o do aproveitamento sustentável das nossas florestas.
O argumento ecológico
Este argumento envolve 5 a 10 por cento da população. Mas é levado em conta numa avaliação global, especialmente no plano sócio-econômico. Em contrapartida, sabemos queas metas de redução energética pesam enormemente no balanço de toda atividade humana e que devem acentuar-se já no futuro próximo. Por outro lado, toda redução energética contribui fortemente para o equilíbrio do meio ambiente e, a partir daí, os argumentos ecológico-econômicos convergem positivamente.
Após os acordos da ECO-92, onde mais de 160 governos assinaram a Convenção Marco sobre Mudança Climática, as Nações Unidas (UNCHS, 1993, p. 25) apontaram as estratégias sustentáveis para os novos componentes de construção e projeto de edifícios.
Destacamos, a seguir, as principais medidas recomendadas nesse documento, e onde a madeira pode assumir papel preponderante na escolha dos métodos construtivos:
- O uso de menos materiais, especialmente aqueles de alta energia, nos edifícios, buscando maneiras de reduzir a espessura de paredes, acabamentos, e pé direito, onde estes fatores não comprometam outros aspectos do desempenho do edifício.
- Optar por materiais de baixa energia onde estes forem disponíveis, como por exemplo: uso de madeira, no lugar do aço ou concreto para vigas e treliças; argamassa de cal, em vez de argamassa de cimento; terra e tijolos de terra estabilizada, em substituição aos tijolos queimados; blocos de concreto celular, no lugar de blocos/painéis densos de concreto; optar por sistemas estruturais de baixa energia, como alvenaria auto-portante, em lugar de concreto armado ou estrutura metálica.
- O cuidado na preservação do local e seu entorno durante as obras civis e após.
- A otimização e racionalização do processo de construção, de modo a reduzir o desperdício e descarte de materiais durante a construção.
- Benefícios econômicos: redução do investimento de construção, e redução do custo de utilização dos edifícios, possibilidade de reuso ou readequação da edificação e componentes para novas finalidades.
- Benefícios ambientais: redução do impacto ambiental, preservação e conservação dos recursos naturais.
Madeira versus o modelo construtivo atual
Em face das soluções padronizadas atualmente, a madeira apresenta-se como intrusa. Entretanto, a oferta de habitações de madeira está se estruturando pouco a pouco, e podemos constatar sua participação crescente nos catálogos de grandes construtores, principalmente no exterior.
Não está longe, se levarmos em conta as necessidades humanas, doravante, a urgência em reduzirmos as demandas energéticas e emissão de poluentes, ao lado do enorme potencial biotecnológico florestal do Brasil, de nos tornar um grande produtor de edificações residenciais, comerciais, hospitalares, escolares, e de outras finalidades, principalmente, para o mercado interno. Podemos ainda, no médio prazo, destacar-nos no cenário internacional do setor.
Considerações
O Brasil não dispõe de diretrizes seguras, nem de sistemas de análise e certificação para a Arquitetura Sustentável. No entanto, podemos apoiar-nos em modelos e experiências já desenvolvidos em outros países, e que são plenamente adaptáveis a nossa realidade.
Mesmo porque, a sustentabilidade absoluta é ainda uma utopia, o equilíbrio ambiental perfeito não será atingido no médio prazo. Ainda assim, projetos e edificações devem buscar continuamente a sustentabilidade, criando níveis de exigência cada vez maiores. Aproximando-se cada vez mais do ideal desejado e contribuindo decisivamente para a preservação do eco-sistema e da sociedade.
Referências Bibliográficas:
OLAGNE, Régis: Directeur Institut BVA – depoimento à bois.com
CORCUERA, Daniela: Edifícios de Escritórios – O Conceito de Sustentabilidade nos Sistemas de Vedação Externa. Dissertação de Mestrado. São Paulo, FAU-USP/Fapesp, 1999.
Kyoto: Protocolo-Greenpeace
Texto do Eng. Élcio Ielpo do blog (www.madeirambiente.com.br)
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