Nenhuma madeira é ruim, aliás não existe madeira ruim. O que existe é apenas a madeira certa aplicada no lugar certo.
Muitas das dúvidas que se tem quando se vai construir com madeira é : Qual é a madeira que vamos utilizar na obra? Madeira dura? Madeira macia? Madeira clara? Madeira escura? Madeira nativa? Madeira exótica? Madeira lisa? Madeira com veios? É muito comum se perguntar tal coisa, já que a madeira é um material muito diverso, com milhares de opções disponíveis, com diversas cores, cheiros, durezas, e até diria sensações, lembranças e afinidade com seus utilizadores.
Pra construções, temos basicamente 3 tipos de materiais : o concreto armado, o aço e a madeira. Existem outros, claro, mas estes 3 são os mais utilizados. O concreto armado, todos já conhecem, é aquele material cinza, vindo da mistura do cimento com areia, pedra e água e que tem dentro uma armação, ou esqueleto, de frias barras de aço. Já as vigas de aço, compostas de ligas de ferro e carbono, também tem sempre o mesmo aspecto, variam de cor apenas de acordo com o fabricante. As características técnicas do concreto armado e do aço, são tabeladas e não mudam nunca, fazendo com que sejam materiais homogêneos e praticamente sem nenhuma diferença entre um ou outro.
As características básicas do concreto e do aço no sul do Brasil são o mesmo no Norte, que são o mesmo na Europa e na China. Já a madeira, além de ter diversas essências diferentes, possui características diferentes em uma mesma espécie! Isso na prática quer dizer que um Ipê, por exemplo, pode ser mais duro que o outro e que ele pode ter cores diferentes que outro da mesma família de árvores. Até os “híbridos” como o Lyptus e o Amaru, espécies criadas em laboratório, podem ter uma diferença na resistência mecânica.
Além disso a madeira aumenta sua resistência, fica mais “dura”, quando está seca com baixa umidade e diminui, fica mais “elástica”, quando possui alta concentração de água em suas células vazias. Outro fator que colabora com a resistência da madeira é a presença de brancal (ou alburno, veios mais claros da parte exterior da árvore e menos resistentes), nós, galhos, rachaduras e fissuras.
Tudo isso torna a escolha da madeira um grande mistério, ficando sempre com a sensação de que estamos comprando a madeira errada ou que estamos sendo enganados por algum vendedor que quer empurrar algum lote de madeira pra gente. Então, pra uma boa escolha da madeira pra estruturas, seja ela um pequeno deck ou pergolado, uma ponte, uma casa e até mesmo um galpão imenso, seguem algumas dicas :
As madeiras duras resistem mais ao tempo e normalmente não precisam de tratamento contra insetos xilófagos (cupins e brocas) pois possuem as fibras tão trançadas que a água quase não consegue penetrar e os insetos não conseguem comê-las. Por terem as fibras trançadas dessa maneira, elas são mais densas e pesadas.
Pra saber se uma madeira é densa/pesada : pegue uma peça de madeira na madeireira e pese-a, anote o resultado em quilogramas, por exemplo, a peça pesou 3,5 Kg. Pegue a mesma peça e tire o seu volume, que é a base x altura x comprimento da peça, em metros cúbicos. Por exemplo, uma peça de 6x12cm com 50cm de comprimento = 0,06 x 0,12 x 0,50 = 0,0036 m³. Divida o peso em Kg pelo volume calculado. Ou seja 3,5 Kg dividido por 0,0036 m³ = 972,22 Kg/m³. Se o valor der acima de 800,00 sabe-se que a madeira é pesada, ótima pra estruturas. Exemplo de madeiras “duras” e pesadas : Ipê (1010,00 Kg/m³), Itaúba (960,00 Kg/m³), Cumaru (1090,00 Kg/m³), Garapeira (830,00 Kg/m³), Piquiá (930,00 Kg/m³), Jatobá (960,00 Kg/m³), Massaranduba ou Parajú (1000,00 Kg/m³).
Um único cuidado com as madeiras duras : os Eucaliptos possuem algumas espécies muito duras e pesadas, como o Citriodora (1040,00 Kg/m³), mas pra uso em construção precisam de tratamento em autoclave sob vácuo-pressão pois são espécies suscetíveis a ataques de insetos xilófagos.
Madeiras macias como o Pinus, muito usado em vigas laminadas coladas na Europa e Estados Unidos, e outras espécies de eucalipto como o Grandis, Urofila, Saligna, Lyptus e Amaru podem ser usadas em construções também, porém com os seguintes cuidados: Se forem usadas em área externa, ou em contato com o solo, devem obrigatoriamente ser tratadas em autoclave. Se não estiverem tratadas devem ser protegidas do sol e da chuva com rufos, vidros, ou outro tipo de coberturas e produtos impermeabilizantes superficiais como os Stains ou os vernizes tipo Cetol /PU, pois estes tipos de madeira, mais macias, possuem poros mais abertos, suscetíveis à absorção de umidade, e como vimos quanto mais água na madeira menos resistente ela fica!
A escolha de cores e cheiros é uma opção pessoal de quem vai comprá-las, de acordo com o gosto de cada um. Mas na prática a cor da madeira é como a pele do ser humano, quanto mais escura for, mais resistente ao sol ela será, ou seja mais resistente à oxidação (acinzentamento) devido à ação dos raios ultravioleta. Por isso, pra madeiras média-claras e mais claras recomenda-se utilizar produtos que possuam em sua composição filtros contra raios UVA e UVB.
O ideal seria que também pudéssemos saber qual a porcentagem de umidade existente nas peças que vamos utilizar na estrutura. Nem todo mundo tem um medidor de umidade, mas as lojas de madeira deveriam ser obrigadas a informar isso ao consumidor. Uma madeira com um grau de umidade muito alto, acima de 20%, por exemplo com certeza vai tender ao empenamento na obra pois, se uma face secar mais rápido que a outra, por estar virada pro sol, tende a encolher, envergando a peça. Se não encolher, com certeza vão aparecer pequenas fissuras. Madeiras com grau de umidade acima de 20% são as chamadas “madeira verde”. A madeira úmida (acima de 20% de umidade), tende a ser atacada mais facilmente por fungos e insetos. Se de alguma forma comprou-se madeira verde para a obra, o ideal é que a madeira seja climatizada pra se ambientar (e secar) no local. A umidade ótima pra se trabalhar com madeira na estrutura é de 12% a 18%. E se você tem um medidor de umidade, use-o na compra das madeiras!
A duração da carga na estrutura, o teor de umidade das madeiras e a qualidade das peças são tratados na norma de cálculo brasileira (NBR7190) como coeficientes de modificação nos cálculos estruturais. Funcionam como coeficientes de segurança devido às imperfeições de uma mesma espécie, reduzindo os valores das resistências pra se adequarem aos cálculos, como se fossem peças homogêneas.
Em uma próxima oportunidade vou discorrer como se faz o pré-dimensionamento de peças pra uso em estruturas, outra grande dúvida de quem vai comprar madeira. Até breve!
Texto : Eng. Alan Dias (projetos@carpinteria.com.br)
2 comentários:
Muito interessante e esclarecedor este post!
Muito bom esse post. Você poderia me tirar uma dúvida. Qual o diâmetro minimo de um eucalipto de 6 mestros que pode ser usado em um vão de 5?
Já fico grato pela atenção.
William.
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